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domingo, 17 de julho de 2011

Lorena: cidade universitária do Vale do Paraíba

No dia 28 de junho o Conselho Universitário da Universidade de São Paulo (USP) aprovou a criação de três cursos na Escola de Engenharia de Lorena (EEL): Engenharia Ambiental; Engenharia Física (graduação inédita na USP) e Engenharia de Produção. Com isso, serão oferecidas 120 novas vagas - 80 em período diurno e 40 em período noturno - já no próximo vestibular da FUVEST, que tem sua primeira fase marcada para o final de novembro.

A EEL oferece anualmente 240 vagas, distribuídas entre os cursos de Engenharia de Materiais (40 vagas); Engenharia Bioquímica (40 vagas); Engenhara Química (80 vagas) e; Engenharia Industrial Química (80 vagas). Esse último será substituído pelo curso de Engenharia Química, com currículo reformulado, que passará a disponibilizar 160 vagas ao todo, nos dois períodos, diurno e noturno. Em entrevista ao Portal G1, Nei Fernandes de Oliveira Junior, diretor da escola, disse que a expectativa é dobrar o número de matrículas no máximo em dois anos, disponibilizando 480 vagas.

Para o professor Arnaldo Ramalho Parta, presidente da Comissão de Graduação da EEL, “a criação dos bacharelados visa combater um dos principais gargalos do crescimento do país, a carência de engenheiros bem formados”. Segundo ele, em matéria publicada pelo site do Estadão, a infraestrutura da escola está sendo aprimorada, a fim de abrigar os novos ingressantes. Um exemplo é a execução do espaço de vivência do Campus I, que contém um conjunto de praças e o restaurante universitário.


Figura 01: Croqui do Centro de Vivência do Campus I da EEL-USP

Figura 02: Obra de execução do Restaurante Universitário do Centro de Vivência do Campus I


Além da EEL, que caminha para se tornar um Pólo de Engenharia da USP, as outras duas instituições superiores de ensino da cidade também estão ampliando suas ofertas de vagas. O Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL) implantou esse ano o curso de Engenharia de Produção, enquanto a Faculdade Teresa D’Ávila (FATEA) iniciou em agosto de 2010 o curso de Arquitetura e Urbanismo. Esse processo de expansão reforça o papel de centralidade universitária que Lorena desempenha na Rede Urbana do Vale do Paraíba.

Em síntese, podemos definir rede urbana como um conjunto de cidades interligadas por meio de sistemas de transporte e de comunicação, por onde fluem, principalmente, pessoas, mercadorias e informações. As cidades brasileiras, ainda em processo de desenvolvimento, em sua maioria, estão dispersas no vasto território nacional, não se articulando por completo com outras, ou seja, não inseridas em redes. São poucas as regiões do Brasil onde se observa uma forte articulação entre os centros urbanos. O Vale do Paraíba é uma delas. Nossa região está situada as únicas cidades globais do país, São Paulo e Rio de Janeiro - e suas respectivas regiões metropolitanas - apresentando elevados índices de industrialização e urbanização.

A rede urbana do Vale do Paraíba é polarizada pela metrópole de São Paulo e estruturada pela Via Dutra, que funciona como uma espécie de “avenida” ou “corredor”. Inaugurada em 1950, a principal rodovia do país promoveu a industrialização e urbanização por onde passou. Assim, as maiores cidades da região estão localizadas às suas margens, com destaque para São José dos Campos, que desempenha a função de cidade média ou capital regional, ou seja, que realiza a intermediação entre a metrópole (São Paulo) e as demais cidades do Vale - ponte entre o global e o local. Pelas informações da Figura 3, percebe-se que o Eixo Dutra concentra a maior parte da população e do Produto Interno Bruto (PIB) do Vale do Paraíba. Essas informações se materializam na expansão dos perímetros urbanos, ou seja, no tamanho do contorno das cidades, que podem ser verificados pela Figura 4.

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Figura 03: Eixo Dutra no Vale do Paraíba Paulista. (Eduardo Venanzoni, 2001, a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2010 e 2008)

Figura 04: Mapa da expansão das manchas urbanas do Vale do Paraíba Paulista – 1991/2000/2008 – (SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente, 2009, p. 93)


Para CORRÊA (1997, p.98) a Rede Urbana do Vale do Paraíba caracteriza-se por forte tendência a uma coalizão física e forte integração funcional, tratando-se de um padrão espacial de áreas urbano-industriais originador de corredores urbanizados. A coalizão física, citada pelo autor, é verificada, sobretudo, nas conurbações urbanas, a citar: Jacareí – São José dos Campos – Caçapava; Taubaté – Tremembé – Pindamonhangaba e; Aparecida – Guaratinguetá – Lorena. Já a integração funcional está presente no elevado número de viagens pendulares dos valeparaibanos, ou seja, os constantes deslocamentos diários de uma cidade à outra, para trabalho, estudo, consumo e lazer. Esses deslocamentos, em sua grande parte, são feitos através da Via Dutra, eixo viário que promove o chamado “corredor urbanizado”.

Observando as características econômicas de Lorena, percebemos que os setores da indústria e comercio, embora relevantes para o cenário local, não credenciam a inserção de nossa cidade na Rede Urbana do Vale do Paraíba. Esses papéis, por diversos fatores, são mais bem desempenhados por São José dos Campos, Taubaté, Jacareí, Pindamonhangaba, Caçapava e Guaratinguetá. No entanto, no setor de serviços, Lorena apresenta maior destaque regional. O turismo, ainda embrionário, se mostra promissor, devido aos circuitos que incluíram a cidade: Religioso e Estrada Real. Além de outros roteiros potenciais, como Caminhos do Rio Paraíba, Caminhos da Liberdade e Circuito Caipira. Na saúde, há a instalação do Ambulatório Médico de Especialidades (AME) e a luta pela vinda da Rede Lucy Montoro de Reabilitação, além dos dois hospitais existentes, Santa Casa de Misericórdia e UNIMED.

Porém são as três instituições de ensino superior (EEL, FATEA e UNISAL) que garantem a especificidade de Lorena. O setor educacional atrai para a cidade pessoas de diferentes localidades, que extrapolam os limites geográficos do Vale do Paraíba. São mais de 6300 alunos, distribuídos em 24 cursos de graduação, que englobam todas as áreas do conhecimento (exatas, humanas, biológicas e da saúde). Sem contar aqueles matriculados nos cerca de 50 cursos de pós-graduação. Esses números configuram Lorena como uma “Cidade Universitária”, característica que a insere, de fato, na rede urbana regional. A tabela e os gráficos a seguir evidenciam essa característica e a importância do setor para o município.

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Figura 05: Tabela com o número de vagas em cursos de graduação presencial entre 1995 e 2007 no Vale do Paraíba (Fonte de dados: FUNDAÇÃO SEADE, 2011)

Figura 06: Gráfico com o número de vagas em cursos de graduação presencial entre 1995 e 2007 no Vale do Paraíba (Fonte de dados: FUNDAÇÃO SEADE, 2011)

Figura 07: Gráfico com a relação entre o número de vagas em cursos de graduação presencial em 2007 no Vale do Paraíba e a população absoluta dos municípios em 2007 (Fonte de dados: FUNDAÇÃO SEADE, 2011 e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 2007)


Observa-se pela Figura 05 que, em 2007, a cidade só perdia em número de matrículas para São José dos Campos e Taubaté, as maiores cidades da região. Pela Figura 06, nota-se que o crescimento no número de vagas esteve quase sempre crescente, variando positivamente 56% no período de 12 anos, taxa maior que a de Taubaté (27%) e similar à de São José dos Campos (59%). No entanto, as informações da Figura 07 são mais reveladoras sobre o peso que o ensino superior tem em sua dinâmica urbana. Considerando a população absoluta de cada município, em 2007, e relacionando-as com o número de graduandos, no mesmo ano, constata-se que em Lorena a população universitária corresponde a 8% do total de habitantes, fazendo dela, em termos relativos, a cidade mais universitária do Vale do Paraíba.

Por fim, a expansão universitária é de suma importância para nossa cidade, marcando a sua real vocação, no entanto, é necessário que a Administração Pública crie condições para que isso ocorra de forma a melhorar as condições de vida de todos, estudantes e lorenenses. Assim, apenas para exemplificar os inúmeros problemas existentes, é necessário o planejamento do sistema de transportes, organizando melhor as vias e controlando a aprovação de loteamentos, de modo a garantir a implantação de novas avenidas, largas, que permitam a fluidez do trânsito e a instalação de empreendimentos, como hotéis, supermercados e restaurantes, sem maiores prejuízos à coletividade. Da mesma forma, é preciso investir em espaços públicos que permitam a socialização e o lazer, como parques, praças, teatro e espaços culturais. Nesse sentido, a população deve reivindicar o diálogo. Devemos discutir sobre o Plano Diretor Urbanístico, aprovado no final de 2009, e sua aplicação por meio de leis complementares. É preciso, então, que os debates sejam ampliados, com a participação de toda a sociedade, incluindo o Governo Municipal.

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Eduardo Venanzoni para A Mocidade de Lorena


Referências bibliográficas:

CORRÊA, Roberto Lobato. Trajetórias geográficas. Rio Janeiro: Bertran Brasil, 1997.

SÃO PAULO (Estado). Subsídios ao planejamento ambiental: Unidade hidrográfica de gerenciamento de recursos hídricos do Paraíba do Sul. São Paulo: Secretaria do Meio Ambiente – Coordenadoria de planejamento ambiental, 2009.


2 comentários:

  1. Excelente artigo, muito revelador das verdadeiras vocações e potencialidades de Lorena. Faço uma observação quanto ao Plano Diretor de Lorena. Circula a informação de que esse PD foi aprovado sem a realização de audiências públicas, pressuposto básico para seu aperfeiçoamento e legitimidade. Será fato ou boato?

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  2. Lembro de ter acontecido pelo menos uma audiência, em novembro de 2009, na Câmara. Mas realmente foi pouco discutido. Por isso a necessidade de ampliar os debates e reformular o atual Plano Diretor.

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