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terça-feira, 9 de agosto de 2011

Em busca de um Plano Diretor Turístico

Até o dia 18 de agosto de 2011, o Vale do Paraíba servirá de laboratório para o projeto “Roda São Paulo”, desenvolvido e operacionalizado pela Companhia Paulista de Eventos e Turismo S/A - TUR.SP, empresa vinculada a Secretaria Estadual de Turismo. A linha turística, ainda em fase experimental, entrou em atividade no último dia 21, com quatro roteiros interligando municípios da Serra da Mantiqueira, levando turistas por passeios em Campos do Jordão, Monteiro Lobato, São José dos Campos (distrito de São Francisco Xavier), Santo Antônio do Pinhal e São Bento do Sapucaí. A partir de hoje (09/08), entra em funcionamento o quinto itinerário dessa etapa do programa, o único fora da Mantiqueira: a Rota Vermelha, de caráter religioso e histórico. O percurso tem início em Pindamonhangaba, passando por Aparecida, Guaratinguetá e Lorena.

A idéia do projeto, comum nos principais destinos turísticos mundiais, é facilitar o passeio, utilizando ônibus que percorrem um itinerário com pontos de parada pré-estabelecidos. Ao todo, serão dez veículos - sendo a metade desses de dois andares, como visto na figura 01. Assim, com o mesmo ingresso, ao preço de R$ 10 reais, durante um dia inteiro, o turista pode descer, conhecer o ponto turístico e retomar o percurso embarcando em um próximo ônibus. Funciona como uma espécie de metrô, possibilitando um contato mais próximo com o patrimônio cultural e com a realidade local.

Figura 01: Ônibus de dois andares (double-deckers) do projeto “Roda SP” estacionado em frente à Catedral de Nossa Senhora da Piedade, em Lorena. Até julho de 2012, esse projeto passará por diversas regiões do Estado. Os veículos, que funcionam em horários diferentes durante o dia, contam com serviço de locução, onde é narrada a história da cidade, assim como dos lugares turísticos mais relevantes. Foto: Jenyfer Ramos, para a Prefeitura Municipal de Lorena.


O objetivo do “Roda SP” é possibilitar o passeio entre municípios vizinhos, com um baixo custo, de forma a distribuir o fluxo turístico e incrementar a economia e o desenvolvimento regional, a partir do aumento do consumo, gerando emprego e renda para os moradores. Dessa forma, o turismo, que vem, ao longo dos anos, tornando-se uma atividade de destaque na região, se fortalece ainda mais, apresentando-se como uma opção viável para a consolidação de um modelo econômico menos impactante ao meio ambiente, sem deixar de agregar valor à produção local.

De fato, o investimento em turismo encontra no Vale do Paraíba condições bastante favoráveis, a citar: ”a paisagem das Serras da Mantiqueira, do Mar e da Bocaina, a presença do Rio Paraíba do Sul e seus afluentes, e um variado patrimônio cultural fortemente marcado pelas tradições da religião católica” (1); a localização estratégica, próxima dos principais centros urbanos e emissores de turistas do Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte); a proximidade com o litoral – norte paulista e sul fluminense; Uma infraestrutura de transporte que garante um alto grau de mobilidade entre os municípios valeparaibanos e com outras regiões do país e; a presença de pólos universitários e tecnológicos, com instituições de ensino de referência e grandes empresas instaladas no eixo da Via Dutra. Essas, e outras prerrogativas, ajudam a compor a variada gama de atrativos turísticos da região, perfazendo um enorme mosaico de possibilidades à serem exploradas pelo turismo.

Esse cenário já tem provocado, nos últimos anos, alterações significativas na economia do Vale do Paraíba, como evidenciado na tabela a seguir, com destaque para os municípios da região de Guaratinguetá.

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Figura 02: Tabela da evolução da quantidade de micro e pequenas empresas relacionadas à atividade turística nos principais municípios da região de Guaratinguetá (2).


Para Lorena, especificamente, o setor de serviços se apresenta como alternativa real e possível de desenvolvimento. A vocação universitária é marcante, com a presença de três grandes instituições de ensino superior. (clique aqui para ler “Lorena: Cidade Universitária do Vale do Paraíba”). Os dados da tabela anterior notabilizam o “aquecimento” do setor, muito em função do aumento de estabelecimentos destinados ao público jovem - como bares, restaurantes e atividades associadas - e à classe média - como agências de viagens, transporte e alojamento. Esses últimos também são impulsionados pela presença dos estudantes, seja pelo fato de muitos não serem da cidade, necessitando desses serviços, seja em decorrência dos eventos técnico-acadêmicos promovidos pelas Faculdades, como encontros e simpósios, que contribuem para divulgar a cidade e para movimentar sua economia.

No tocante ao turismo, Lorena guarda um grande potencial. Atualmente a cidade está inserida em dois circuitos: Religioso e Estrada Real. O primeiro abrange quatro municípios da região, sendo que a inserção de Lorena no chamado “roteiro da fé” deu-se pela existência de igrejas centenárias: Catedral de Nossa Senhora da Piedade; Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e; Basílica Menor de São Benedito. Já o Circuito Turístico Estrada Real, criado em 2001 pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, atualmente, é um dos maiores complexos de turismo do país, com mais de 1600 km de patrimônio cultural e ambiental, percorridos das mais diversas formas: a pé, a cavalo, de bicicleta, motocicleta ou de automóvel. O projeto integra mais de 60 municípios, de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, passando por cidades do Vale do Paraíba Paulista, no trecho “Caminho Velho”, de Ouro Preto à Paraty. Além desses, o município pode ser inserido em outros, sejam aqueles em atividade como os que estão em formatação, a saber: Circuito Caipira, Circuito Caminhos do Rio Paraíba, Estrada Real: Caminho Novo da Piedade e Rota Caminhos da Liberdade (Roteiro Religiosidade e Economia).

Dessa forma, Lorena apresenta condições favoráveis para participar e proporcionar pacotes turísticos nos diversos seguimentos do setor:

  • O Turismo Religioso, através das antigas igrejas e da tradição católica, integrado ao Plano Turístico Estadual (Aparecida, Guaratinguetá, Cachoeira Paulista). A presença da Renovação Carismática, sendo o berço da Canção Nova e sede de uma Comunidade Bethânia, no Recanto de Lorena do saudoso Padre Léo;
  • O Turismo Cultural, representado pelo costume caipira e suas características rurais e interioranas; pelo passado tropeiro, como região de passagem pelos caminhos da Estrada Real e; pelas manifestações tradicionais, as festas - religiosas ou profanas -, o artesanato, a culinária, a Congada Moçambique de São Benedito;
  • O Turismo Histórico, que, conectado aos anteriores, se materializa nas edificações e lugares de elevado valor arquitetônico, histórico ou cênico. Nesse contexto, a possibilidade de resgatar o papel de Lorena na Revolução Liberal de 1842; no auge do ciclo do café, com as Palmeiras Imperiais; na passagem de Euclides da Cunha, coincidindo com a organização de sua obra máxima, Os Sertões; na Revolução Constitucionalista de 1932, quando a cidade chegou a ser alvo de um bombardeio aéreo; além da própria história de sua urbanização, um caso pouco comum, senão único, de cidade brasileira colonial cuja Igreja Matriz tenha “dado às costas” à expansão urbana;
  • O Turismo de Aventura e Ecoturismo, associado ou não ao Turismo Rural, à explorar os caminhos e estradas rurais dos municípios limítrofes, integrando a cidade à localidades mais distantes, como a bacia do rio Paraitinga e os bairros de Santa Lucrecia e Pinhal Novo. As antigas fazendas, sendo que algumas já oferecem serviços turísticos, como a Fazenda Amarela e a Fazenda das Palmeiras. A presença do rio Paraíba, da Floresta Nacional de Lorena e da represa do DAEE, próximos à área urbana, perfazem outras opções de rotas nas proximidades da cidade;
  • O Turismo de Negócio, com a presença das universidades e de empresas instaladas não só no município, como em toda a região. Assim, há um grande campo a ser explorado, a partir da realização de congressos científicos, simpósios, feiras e outros eventos estudantis, como jogos e encontros.

Todas essas vertentes turísticas podem estar conectadas às peculiaridades da cidade, que servem como “cartão postal”, ou seja, atrativos para promover o marketing urbano, explorando, por exemplo, as palmeiras imperiais e o cultural uso da bicicleta.

Todavia, pensamos que não se pode permitir que a atividade turística aconteça de forma espontânea e desordenada. É necessário um planejamento adequado, de forma a maximizar os benefícios sociais e econômicos para as populações locais, além de evitar que a atividade turística gere inconvenientes no cotidiano lorenense, relacionados, principalmente: à infraestrutura, sobretudo de circulação (trânsito); ao aumento dos preços no comércio e; à especulação imobiliária. Nesse sentido, A Mocidade de Lorena, que tem como ideal contribuir com a Administração Municipal, a partir da apresentação de propostas viáveis à melhoria das condições de vida em nossa cidade, apresenta algumas idéias que foram debatidas em seu fórum virtual de discussões.

A priori, propomos a elaboração de um Plano Diretor Turístico, com participação ampla e irrestrita da sociedade, que determine, com força de lei, as premissas, as metas, os objetivos, os prazos, os métodos e as responsabilidades da política municipal de desenvolvimento do turismo, do qual decorrerá, sobretudo: o levantamento do patrimônio cultural do município, listado e especificado em um inventário (clique aqui para ver um exemplo de Pernambuco e aqui para um exemplo do Rio Grande do Sul); a instituição da Zona de Preservação do Patrimônio Cultural de Lorena (ZPPC), definindo as áreas do município onde serão aplicados instrumentos de preservação, incluindo processos de tombamentos (clique para ver, como exemplo, a Lei 4568 de Pelotas/RS); a criação de um programa de publicidade e divulgação do turismo, com o desenvolvimento de uma identidade e linguagem visual própria, de forma a aumentar o fluxo de viajantes de outras regiões do país para Lorena; a implantação e manutenção de um sistema de informações turísticas, que englobe um projeto de sinalização viária, com placas indicativas, orientando as pessoas para os pontos de interesse turístico e placas explicativas em frente de cada um desses pontos e; a elaboração de um calendário de atividades, distribuindo eventos culturais ao longo de todo o ano. Acreditamos que, para essas medidas, cabe a parceria com as faculdades da cidade, principalmente com os cursos de Direito, História, Geografia, Arquitetura e Urbanismo, Desenho Industrial e Comunicação Social – Rádio e TV, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas e Jornalismo.

De forma a avançar nas contribuições, discutimos e elaboramos um documento capaz de subsidiar essa política, contendo um levantamento prévio do patrimônio cultural do município (clique aqui para ler "Roteiro Turístico Pelo Patrimônio Cultural de Lorena - Indicações"). Tal documento foi entregue pelas mãos do então secretário de cultura, Luis Otávio Nunes Cardoso, em maio, ao Conselho Municipal de Turismo, recentemente reativado. Os pontos de interesse turístico, levantado por nós, podem ser visualizados no mapa da Figura 03, que possibilita entrever a provável ZPPC de Lorena.

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Figura 03: Mapa de Lorena pontuado com o patrimônio cultural levantado pelo grupo A Mocidade de Lorena. Dentre os pontos, encontram-se as igrejas históricas, que formam o “Quadrilátero Sagrado” (3); os logradouros públicos - vias e praças - e edificações privadas - casarões e palacetes - da época imperial, o auge do café e; lugares de memória que remetem à origem do povoado e os principais momentos da cidade em mais de 300 anos de existência.


Com esse patrimônio levantado, mapeado, localizado e sinalizado é possível promover, com qualidade turística, passeios como o ocorrido dias atrás, pelo projeto “Turismo do Saber”, também realizado pelo Governo do Estado, que visa proporcionar o turismo pedagógico, unindo cultura, civismo, vivência social e lazer. Na ocasião, 40 crianças de Praia Grande passaram cinco dias de férias, conhecendo os principais locais da cidade.

Por fim, pensamos que essa política, planejada e organizada, pode fazer de nosso município uma Estância Turística - titulo concedido pelo Governo do Estado de São Paulo a municípios que possuam características peculiares que impliquem uma vocação para o turismo. As estâncias recebem verbas especificas para investir em infraestrutura voltada para o turismo. Para tanto, como requisito, o município deve conter atrativos de natureza histórica, artística ou religiosa, ou de recursos naturais e paisagísticos (Lei Estadual no 11.022, de 28 de dezembro de 1977). Como visto, Lorena é capaz de oferecer esses atrativos, se todo o potencial turístico aqui existente for completamente aproveitado.

Pedimos, então, que a Administração Municipal trabalhe no sentido de pensar, aplicar e consolidar essa política. Nós, lorenenses de berço ou de coração, nos colocamos à disposição para construirmos juntos um plano de desenvolvimento e/ou consolidação do turismo em Lorena. Cientes da forma secundária como o turismo ainda é tratado na política brasileira, devemos unir forças para de fato se aproximar de um objetivo. Para isso, se faz necessário todo apoio e colaboração, seja política ou social.

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Antonio Afonso e Eduardo Venanzoni em nome d'A Mocidade de Lorena


Referências bibliográficas:

(1)SÃO PAULO (Estado). Subsídios ao planejamento ambiental: Unidade hidrográfica de gerenciamento de recursos hídricos do Paraíba do Sul. São Paulo: Secretaria do Meio Ambiente – Coordenadoria de planejamento ambiental, 2009. p. 93.

(2)Ibidem. p. 34.

(3)Quadrilátero Sagrado é um projeto desenvolvido pelo curso de história do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL), campus São Joaquim – Lorena, sob a coordenação do professor Francisco Sodero Toledo.

Sítios Eletrônicos acessados:

saopaulo.sp.gov.br – acessado em 06/08/2011

turismo.sp.gov.br – acessado em 08/08/2011

valenews.com.br – acessado em 07/08/2011

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