A Mocidade de Lorena

Vereadores pedem ao Prefeito a implantação de bicicletários no centro da cidade

A bicicleta é um meio de transporte não poluente - ecologicamente correto -, de fácil aquisição e baixo custo de manutenção, saudável, eficiente e, além disso, serve como meio de lazer para a população. Mas, apesar de todas essas vantagens, seu uso não é muito comum em algumas cidades brasileiras. Não é o caso da nossa. Lorena é nacionalmente conhecida pelo grande número de bicicletas em circulação em suas vias. Estima-se que a proporção chega a uma bicicleta por habitante. Essa constatação pode ser explicada pelo fato de a área urbana lorenense estar assentada sobre uma planície aluvial, ou seja, grande parte da cidade está localizada sobre terrenos baixos e planos junto aos cursos d'água afluentes do Rio Paraíba do Sul. Essa característica geográfica favorece o uso de bicicletas, pois se percorre grandes distâncias sem a necessidade de vencer morros e ladeiras.

O uso de bicicleta pelos lorenenses é tão freqüente que a cidade foi uma das selecionadas para ser alvo de uma pesquisa apresentada no 14º Congresso Brasileiro de Transportes e Trânsito, em 2003 na cidade de Vitória - ES. Nessa ocasião, foi apresentado um trabalho contendo dados sobre o comportamento dos ciclistas e algumas características do uso de bicicletas em quatro cidades: Lorena, Santo André, Florianópolis e Piracicaba. Tal pesquisa foi incluída no Caderno de referência para elaboração de Plano de Mobilidade por Bicicleta nas Cidades, elaborado em 2007 pelo Ministério das Cidades, e, além de delinear o perfil genérico dos ciclistas brasileiros, divulga dados relativos à renda média dos mesmos, a intensidade do uso da bicicleta e os principais problemas no trajeto.

Nesse último item é feito uma análise particular, mostrando que buracos e imperfeições no pavimento aparecem como primeira preocupação entre os ciclistas entrevistados em Lorena, que, segundo o estudo, é a “cidade onde os ciclistas pesquisados possuíam as menores rendas, sendo mais dependentes da bicicleta. Em verdade, os ciclistas de Lorena representam claramente os ciclistas da periferia das grandes cidades, não somente em razão do perfil de suas rendas, mas principalmente por fazerem uso de trechos de vias urbanas e de rodovias com intenso uso de tráfego pesado” ¹

Vejam que, segundo a pesquisa citada, os ciclistas lorenenses, na maioria pessoas economicamente desfavorecidas, são obrigados a compartilharem vias mal conservadas com grande fluxo de carros, ônibus e caminhões. Sendo assim, o investimento público na implantação de um sistema cicloviário na cidade reveste-se de significativa importância social, pois garantirá às pessoas simples e humildes, que não possuem automóveis, igualdade ao direito de ir e vir, com segurança, conforto e eficiência.

Porém, mesmo com toda essa quantidade de bicicletas nas ruas, com toda a dificuldade enfrentada pelos ciclistas e com todo um estudo técnico já realizado para a cidade, muito pouco foi planejado, elaborado e investido em infra-estrutura que ofereça conforto e segurança aos usuários desse meio de transporte e em programas educacionais que conscientizem a população sobre esse tema.

No entanto, à primeira vista, existem esforços na tentativa de mudar esse quadro. Por exemplo, a ciclovia da revitalizada Rua Principal, mesmo sendo executada com dimensões subestimadas, ou seja, com largura insuficiente para a demanda de tráfego existente, aponta para a inclusão de espaços exclusivos para bicicletas em outras vias da cidade que, por ventura, forem recuperadas.

Outra boa notícia, que mostra a preocupação do Poder Público com esse tema, vem da sessão inaugural da legislatura 2009-2012 da Câmara Municipal, ocorrida na última segunda feira, 02 de fevereiro. Os vereadores aprovaram, por unanimidade, a moção de apelo apresentada pelo vereador Dr. Luiz Martinho (PSB) pedindo ao Prefeito Municipal, Dr. Paulo César Neme (PTB), a implantação de estacionamentos gratuitos para bicicletas, os chamados bicicletários públicos, em pontos estratégicos no centro da cidade. O vereador sugeriu duas áreas: a Praça do Rosário, no histórico local onde, durante o século XIX e até meados do século passado, encontrava-se o edifício que abrigou por muito tempo a Prefeitura e a Câmara Municipal ² ; e o chamado “Beco dos Morcegos”, ao lado dos Correios, via recentemente fechada para o fluxo de veículos em decorrência da abertura da Rua Dom Bosco sobre a linha férrea. Segundo o vereador, esses bicicletários seriam cercados, com grade baixa, e vigiados permanentemente por guardas municipais.

Na realidade, existem dois tipos específicos de estacionamentos seguros para bicicletas : o bicicletário e o paraciclo. O primeiro, sugerido pelo vereador, é o espaço, com controle de acesso, destinado ao estacionamento de longa duração, podendo ser coberto ou ao ar livre. Já o paraciclo, semelhante aos instalados na ciclovia da Rua Principal, é o local destinado ao estacionamento de curta e média duração em espaço público, equipado com dispositivos para acomodá-las.

A Mocidade de Lorena aprova a iniciativa do vereador Martinho, acreditando que essa ação contribuirá para diminuir o fluxo de ciclistas nas estreitas vias centrais da cidade, oferecendo segurança e conforto tanto à eles, como aos pedestres e condutores de veículos, além de servir como incentivo ao uso da bicicleta. Assim sendo, a fim de enriquecer a proposta do vereador, tomamos a liberdade de fazer algumas sugestões.

De início, entendemos que a localização dos dois bicicletários foi bem pensada, uma vez que ficariam em extremos do acesso da Rua Principal. Porém, existem outras áreas centrais passíveis de um estudo de viabilidade para acomodação de um estacionamento desse tipo. Por exemplo, a Praça da Estação (foto), já contemplada com um estacionamento para automóveis. Também recomendamos a implantação desse equipamento junto a Rodoviária, visando a integração com outros meios de transporte, assim como nas escolas, como forma de incentivo ao uso da bicicleta entre os alunos e em vias próximos as feiras livres existentes na cidade. ³

Embora o investimento para esse tipo de obra não seja tão alto, tendo em vista a simplicidade do projeto, a implantação e operação dos bicicletários com controle de acesso poderiam ser patrocinadas pela iniciativa privada, sem qualquer ônus financeiro para a Municipalidade, em troca de exploração de publicidade em seu espaço e da comercialização de serviços, como banheiros, ponto de vendas de bebidas não alcoólicas, lanches prontos e produtos destinados à realização de pequenos serviços de manutenção e reparo de bicicletas. Desde que bebedouros, com água potável, e bombas de ar comprimido, sejam para uso gratuito dos usuários.

Esperamos que o Prefeito Municipal considere essa proposta e coloque em prática essa idéia. Porém, é necessário, antes de tudo, planejamento de obra, ou seja, é preciso realizar um estudo de viabilidade, levando em consideração, principalmente: os locais do centro com maior densidade de ciclistas, os horários de pico e a análise das rotas dos usuários de bicicletas da cidade. Vimos que a falta de um estudo mais cuidadoso de viabilidade no projeto de revitalização da Rua Principal resultou em uma ciclovia caótica e a permanência de um trânsito desorganizado. Nesse caso, não se considerou o fato dessa ser uma via antiga e por conseqüência estreita, com apenas 10 metros de largura, logo, incapaz de suportar a instalação de ciclovia bidirecional, em conjunto com espaço exclusivo para automóveis e largas calçadas para pedestres.

Uma enquete realizada em nosso blog mostrou que, para a maioria, a idéia dos bicicletários é valida, porém, seria necessário que o Executivo tomasse a iniciativa de planejar e difundir uma rede cicloviária por toda a cidade, buscando criar rotas que ligassem os bairros periféricos às áreas centrais, onde se concentram o comércio e os serviços. Dessa forma, se formaria, juntamente com os estacionamentos, um sistema cicloviário eficiente e capaz de servir ao grande número de ciclistas, garantindo que os mesmos transitem de forma confortável e segura e tenham lugares, igualmente confortáveis e seguros, para guardar suas bicicletas.

Por fim, um último ponto a ser considerado é a cidadania e educação no trânsito. O Executivo deveria manter ações permanentes objetivando promover a conscientização da população em geral sobre esse assunto, sobretudo os ciclistas. A elogiada e premiada Secretária de Educação poderia, em parceria com o 23º Batalhão da Polícia Militar e a empresa Nova Dutra, considerar a inclusão da disciplina “Educação no Trânsito” nas escolas da rede municipal de ensino.

Que o Poder Público dê a devida importância a esse assunto. Que nossas vias estejam preparadas para receber os ciclistas e que nosso povo esteja consciente das vantagens do uso civilizado da bicicleta como meio de transporte. Que Lorena mire-se no exemplo de Bogotá, na Colômbia, que ao colocar em prática um plano cicloviário, atrelado a valorização de grandes espaços de apropriação pública, como bibliotecas e parques, resolveu não só problemas relacionados ao trânsito, mas também a segurança pública.

¹ Coleção Bicicleta Brasil – Caderno 1. Referência para elaboração de: Plano de Mobilidade por Bicicleta nas Cidades. Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana. Ministério das Cidades. Brasília, DF – 2007. Página 32.

² EVANGELISTA, José Geraldo. Lorena no Século XIX. Coleção Paulística Vol. II. Governo do Estado de São Paulo, São Paulo, 1978. Página 72

³ A construção de bicicletários próximos às feiras livres foi tema de um Requerimento apresentado pelo vereador Mafú (PV) na sessão do dia 09 de fevereiro. Tal requerimento foi aprovado por unanimidade.

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A Mocidade de Lorena*

*A sugestão do vereador Martinho, em nome da Câmara Municipal e dirigida ao chefe do Executivo, de se construir bicicletários públicos no centro da cidade foi discutida em nosso Grupo de Discussão do Yahoo entre os dias 04 e 09 de fevereiro.